terça-feira, 26 de novembro de 2013
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[RESENHA] Mar Morto - Jorge Amado



Lido em: Novembro/2012
Título: Mar Morto
Autor: Jorge Amado
Editora: Livraria Martins Editora
Categoria: Literatura Brasileira/Romance
Ano:1936
Páginas: 201
ISBN: 0
Skoob



Ótimo!

Sinopse: Mar morto conta as histórias da beira do cais da Bahia, como diz o escritor, na frase que abre o livro. Personagens como o jovem mestre de saveiro Guma parecem prisioneiros de um destino traçado há muitas gerações - o dos homens que saem para o mar e que um dia serão levados por Iemanjá, deixando mulher e filhos a esperar, resignados. Mas nesse mundo aparentemente parado no tempo, há forças transformadoras em gestação. O médico Rodrigo e a professora Dulce, não por acaso dois forasteiros, procuram despertar a consciência da gente do cais contra o marasmo e a opressão.

Biografia: Foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos. Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.





Para minha primeira resenha, resolvi falar sobre esta obra lindíssima de Jorge Amado.
Sou fascinada por tudo que ele escreve e este livro em particular, mexeu muito comigo, chorei horrores quando terminei de ler rs.
É uma grande responsabilidade falar sobre este grande autor,mas vamos lá rs.

Mar Morto conta a história de amor entre o mestre de saveiro Gumercindo (mais conhecido como Guma)e de Livia. Um homem do mar e uma mulher da terra; que vivem na beira do cais de Salvador, onde a vida é dura, sem recursos e muito sofrida.
O povo do mar (ou o povo de Iemanjá), que dele tiram seu sustento, parecem já ter seu destino traçado:um dia, sem aviso prévio, numa noite de tempestade ou não, serão levados para as terras de Aiocá, a morada de Iemanjá, a  mãe d'agua.


Saveiros no Porto de Salvador em meados de 1913

Saveiros atualmente


Nos trechos abaixo poderemos entender um pouco melhor como se dá esse destino:

Judith soluça no quarto. É destino de todas elas. Os homens da beira do cais só tem uma estrada nessa vida: a estrada do mar. Por ela entram, que seu destino é esse. O mar é dono de todos eles. Do mar vem toda a alegria e toda tristeza, porque o mar é mistério que nem os marinheiros mais velhos entendem, que nem entendem aqueles antigos mestres de saveiros que não viajam mais, e apenas remendam velas e contam histórias. Quem já decifrou o mistério do mar? Do mar vem a música, vem o amor, vem a morte. E não é sobre o mar que a lua é mais bela? O mar é instável. Como ele é a vida dos homens dos saveiros. Qual deles já teve um fim de vida igual aos dos homens da terra que acarinham netos e reúnem as famílias nos almoços e jantares? Nenhum deles anda com esse passo firme dos homens da terra. Cada qual tem alguma coisa no fundo do mar:um filho, um irmão, um braço, um saveiro que virou, uma vela que o tempo da tempestade despedaçou. Mas também qual deles não sabe cantar essas canções de amor das noites nos cais? Qual deles não sabe amar com violência e doçura? Porque toda vez que cantam e amam, bem pode ser a última. Quando se despedem das mulheres não dão rápidos beijos, como os homens da terra, que vão para os seus negócios. Dão adeuses longos, mãos que acenam, como que ainda chamando.  Pág. 14

[.,,] Ela é a mãe d'agua, é a dona do mar, e por isso, todos os homens que vivem em cima das ondas a temem e a amam. Ela castiga. Ela nunca se mostra aos homens a não ser quando eles morrem no mar. Os que morrem na tempestade são seus preferidos. E aqueles que morrem salvando outros homens, esses vão com ela pelos mares a fora, igual a um navio, viajando por todos os portos, correndo por todos os mares. Destes ninguém encontra os corpos, que eles vão com Iemanjá. Para ver a mãe d'agua muitos já se jogaram no mar sorrindo e não mais apareceram [...]Pág.16

[...] Ele diz que é doce morrer no mar, porque irão encontrar a mãe d'agua, que é a mulher mais bonita do mundo todo [...] Pág. 17

Jorge Amado dedica uma boa parte do livro falando sobre a crença do povo do mar em Iemanjá,porém o livro não faz nenhum tipo de apelo à religião nenhuma, não incita nada. Somente retrata a magia e os mistérios que giram em torno do mito da mãe d'água.

Festa de Iemanjá em meados de 1930

Festa de Iemanjá nos dias atuais


Uma velha canção conhecida pelo povo do cais diz que "desgraçada é a mulher que vai com um homem do mar, sorte boa não terá, infeliz destino é o seu, seus olhos não pararão jamais de chorar, e cedo murcharão de tanto se alongarem para o mar, esperando a chegada de um vela..."
Por esse motivo, o povo do mar vive cada dia como se fosse o último. Para eles não importa se a vida é miserável, o que importa é poder voltar pra casa depois de dias em alto mar, e cair nos braços da mulher amada, encontrar os filhos, sua família, que tanto temeram pela sua vida.

E foi nesse ambiente de amor,mistérios, medo, morte,desgraças e crendices, que Guma e Lívia se conheceram, se apaixonaram e se amaram.

É uma história muito rica em detalhes. Enquanto eu lia, parecia que dava pra sentir o cheiro do mar, da pescaria, do corpo salgado dos pescadores.
Por isso e por muitas outras coisas (que não vou contar hahaha), fiquei fascinada por esse romance!
E também pela simplicidade desse povo, pelo amor de alma, e não do amor por interesse, amor por status. Amor, simplesmente.

 A lua bate sobre eles, derrama sua luz suave. As noites no cais, quando são belas assim, são destinadas ao amor. Nessas noites as mulheres que muito temeram pelos maridos, muito amor recebem. Quantas noites iguais a estas ela -Lívia tem a cabeça baixa e se recorda - não passou ao lado de Guma, a cabeça dele descansando no seu colo, a luz do cachimbo que ele pitava se confundindo com as luzes das mil estrelas? Quando ele chegava numa noite de temporal, numa noite de muita angústia para ela, iam os dois para o saveiro e se amavam sob a chuva, ao clarão dos raios. Era um desejo misturado com medo, com uma angústia inexprimível.  Era aquela certeza que ela tinha de um dia o perder no temporal. Era aquela certeza que fazia arrebatado seu amor. Ele iria se afogar, ela tinha certeza. Por isso o amava todas as vezes como se fosse a última. Noites de tempestades, noites feita para a morte, para eles eram noites de amor. Noites em que os gemidos atravessavam o mar oceano, eram gritos de desafio. Se amavam na tempestade. Nas noites negra de nuvens, noites despidas de estrelas, órfãs de lua, eles se encontravam e o amor tinha um gosto de separação, de fim. Nessas noites em que o vento domina, o nordeste ou o vento sul sopram com violência abalando o coração das mulheres do cais, nessas noites eles se despediam como se nunca mais fossem rever. Foi assim a primeira vez.  Não eram casados ainda e, no entanto,  se amaram como se ela fosse ficar viúva logo depois. Foi no rio Paraguaçu, junto ao lugar onde aparecia o cavalo encantado.  Pág. 195 / 196

Mar Morto inspirou Dorival Caymmi a compor um de seus grandes sucessos, a canção " É doce morrer no mar".


Interpretação de Clara Nunes

E para os noveleiros de plantão, o livro também foi adaptado para a tv. Quem se lembra novela " Porto dos Milagres"? A novela foi ao ar em 2001 pela Rede Globo e foi um grande sucesso.


Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei, e que também se emocionem com essa linda história de Guma e de sua Lívia

17 comentários:

  1. Olá acho que já li esse livro a muito tempo atrás e lembro de ter gostado muito parabéns pela resenha!

    Beijos

    www.livrosechocolatequente.com.br

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Oi Andressa!!!
      Esse é um dos livros que mais gostei de ler,linda história de amor!!
      Muito obrigada pelo elogio =)

      Beijos

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    3. Tenho um exemplar de 1936 quando vale

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  2. Jorge Amado é único! Li Capitães da Areia aos 14 anos e fiquei encantada com a forma como ele escrevia, cheia de detalhes, como você bem descreveu. Adorei a resenha de Mar Morto!

    Beijos, Entre Aspas

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    1. Jorge Amado é único mesmo,maravilhoso!! Que bom que gostou da resenha =)
      Quando tiver oportunidade leia Mar Morto,você vai adorar!!
      Beijos

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  3. Gente! Não sabia que a novela tinha sido inspirada no livro. Nunca li nada do Jorge Amado e estou curiosa agora.

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    1. Duas obras dele inspiraram a novela, Mar Morto e A Descoberta da América pelos Turcos.
      Vale muito a pena ler Jorge Amado,a obra dele é muito rica!!

      Beijos =)

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  4. Oi Mariana!!
    Muito obrigada pela visita =)
    Sucesso pra nós!!

    Beijos

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  5. Eu não sou muito chegada a esse tipo de leitura, mas pra quem curte parece realmente ótimo!

    Beijos.
    http://viciosemtres.blogspot.com.br/

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    1. Oi Fernanda!!Sim,é ótimo!!Vale a pena ler =)

      Beijos

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  6. Eu nunca li um livro dele, mais conheço algumas obras por causa dos filmes, parece ser bom esse livro. Algum dia vou procurar livros dele para comprar.

    http://momentocrivelli.blogspot.com.br/

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    1. Os livros são ótimos,super detalhados.Se gostou dos filmes,novelas,vai amar os livros!!

      Beijão =)

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  7. ACABEI DE LER MAR MORTO. ESTOU ENCANTADA PELA FORMA DETALHADA QUE ELE DESCREVE A VIDA DO CAIS E DE SEUS MORADORES.AH! QUE LINDO O AMOR DE GUMA POR LÍVIA .
    NÃO GOSTEI DO FINAL, PORÉM NÃO CABIA OUTRO SE NÃO O TRÁGICO.

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  8. O livro é tão amado quanto Jorge, ele faz a gente sentir o mesmo amor e sensibilidade pela Bahia que ele e seu povo tem. Mas não concordo com a parte da resenha que diz a Iemanjá ser apenas uma personagem sem ligação com a religião, a todo momento o livro fala da importância do candomblé na vida do povo do cais, e o quanto era uma forma de resistência pra eles!

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Quem Escreve

Aline (Li), taurina, turismóloga, paulista de Ribeirão Preto, apaixonada por séries de TV e compulsiva por livros (se estiverem em promoção, então..rs). Amo ler! :)



Colaboradora

Luciana (Lu), Ribeirão-pretana, virginiana e perfeccionista. Cake Design. Danço nas horas vagas por paixão e para relaxar. Amo artesanato, praia, filmes, seriados e claro, livros!

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